Uma noite para recordar foi o que Antony and the Johnsons ofereceram ontem.
Assim que as luzes da sala se apagaram, uma esgotada Aula Magna silenciou-se de expectativa. Primeiro entraram os The Johnsons, só passado alguns momentos entrou Antony, alto, com laivos de timidez e de mala ao ombro. Pelo modo espontâneo como as palmas rebentaram era fácil de ver que o público estava pronto para render-se. Sentou-se ao piano e começou por "My Lady Story". Confesso que tinha receio que a voz que me tinha extasiado, quando ouvi pela primeira vez o álbum, não tivesse o mesmo poder ao vivo mas enganei-me, é ainda mais sentida e bela.
As canções seguiram-se e era cada vez mais evidente que o público estava conquistado por completo. Antony, sempre simpático na interacção com a plateia, pôs-nos a cantar "Water and Dust". O resultado em termos musicais não foi dos melhores mas em termos de ligação entre o cantor e as pessoas foi um momento especial.
O cantor brindou-nos também com versões de músicas de Moondog, Leonard Cohen (nunca hei-de perceber porque gosto sempre mais das covers do que dos seus originais), Lou Reed e Nico. Estes dois últimos a estabelecerem, no concerto, a aura warholiana presente no álbum "I Am a Bird Now", que tem na capa Candy Darling, uma das estrelas da
factory de Andy Warhol.
Para o fim ficou "Hope There's Someone". A emoção com que Antony a cantou é algo impossível de expressar em palavras mas o poder com que me atingiu foi tão forte que chorei. Quando terminou, a Aula Magna levantou-se para uma ovação estrondosa.
Tivemos
encore e a noite encerrou com "Candy Says".
A solidão é um dos temas dominantes na sonoridade de Antony mas ontem ele não esteve só, nem ele nem nenhuma das pessoas da plateia. Estivemos todos unidos na melancolia sublime com que Antony nos presenteou.