sábado, junho 04, 2005

Histórias

Uma sala vazia e escura, é aqui que eu habito.
Tu andas lá fora na claridade mas quando te magoam, quando te fechas às pessoas é sempre para a minha sala negra que tu foges. Falas horas e horas sem fim do que te faz chorar e eu conheço de cor as tuas feridas, só a mim revelaste o teu coração e eu tratei de o curar o melhor que pude. Quantas vezes te vi contorcer no chão de desespero, querias sentir fisicamente a dor que te corroía por dentro, peguei no teu punho cerrado e fi-lo bater violentamente na parede. Os nós da tua mão incharam, podia-se ver o sangue que queria sair mas que não conseguia ultrapassar a tua pele, no entanto tu sentiste-te melhor. Disseste-me que olhavas frequentemente em espelhos à espera de que, nem que fosse por um breve momento, me pudesses amar mas que invariavelmente acabavas por me odiar ainda mais. Perguntei-te então, se me odiavas tanto, porque voltavas sempre para mim e tu respondeste-me que eu era a única coisa que tu tinhas.
Senti que a tua dor aumentava, estavas a ficar indiferente, querias deixar de sentir, querias poder arrancar o teu coração e deitá-lo fora, do que serve ter algo que só nos faz sofrer, perguntaste. Propus-te arrancar o teu órgão e concordaste. Peguei numa faca e espetei-a no teu peito, caíste imediatamente no chão junto aos meus pés. Cortei-te as costelas e arranquei o coração. Ergui a minha mão ensanguentada e olhei para o teu coração, de repente comecei a sentir que eu desaparecia lentamente e apercebi-me que o teu coração é a minha sala vazia e escura e eu sou a tua alma.