terça-feira, junho 14, 2005

O egocentrismo da arte

Será possível alguém apreciar uma obra de arte sem egoísmo? O gostarmos de uma obra de arte parte dum conceito fundamental de egoísmo, só gostamos de algo se nos vemos retratados nela a algum nível. Um forte exemplo disto é o quadro de Munch, "O Grito". Não é considerado por muitos críticos o melhor quadro de autor mas é um dos mais populares e adorados pelo público em geral, porque representa algo que todos nós em algum ponto da nossa vida sentimos, um desejo enorme de gritar todos os nossos medos e ansiedades.


Edvard Munch, The Scream, 1893

Mesmo a obra em si só funciona se o autor for egocêntrico. Quanto mais egocêntrica mais intensa se torna a obra de arte, porque o autor está a representar uma realidade que vive em primeira mão. Estar a recriar uma situação que se vê mas que não se vive implica que haverá sempre um natural distanciamento que se nota na obra de arte tornando-a num objecto sensorial indiferente. Nesse ponto boicota-se a razão de existir arte, que é tocar o ser humano, quer provocando reacções de amor ou ódio. Pessoalmente não gosto de Rothko, sinto uma indignação de ser dado tanto valor a algo tão primário, mas nunca negaria às suas obras o título de arte, porque precisamente me fazem sentir algo.


Mark Rothko, Untitled [No.4], 1964

Por isso, definitivamente a arte é a expressão maior do génio humano, não porque retrata somente o que a humanidade tem de melhor mas porque representa o Homem na sua totalidade, especialmente no seu egoísmo que nasce do instinto primordial de conservação do indivíduo.