Entro no café, vejo uma mesa desocupada ao pé da parede e encaminho-me para ela. Puxo a cadeira e sento-me de frente para a parede, de costas para o resto da clientela barulhenta. Não me apetece ter que aturar os olhares inquisidores de pessoas banais, com vidas simples e conversas mundanas. Recosto-me na cadeira e cruzo as pernas enquanto acendo um cigarro. Pouso o isqueiro no maço de tabaco que pus em cima da mesa.
- O que deseja? – pergunta uma empregada que entretanto se tinha aproximado.
- Era um café, se faz favor.
Ultimamente, esta tem sido a minha dieta, café, cigarros e álcool, sem preferência pelo tipo de bebida. Mal consigo dormir, passo as noites num constante estado febril. Só consigo pensar em ti, na ideia de te abraçar, de te beijar. Sinto-me no limiar da loucura, amas-me ou não me amas? Num momento olhas-me com ternura, pões a tua mão na minha e dizes que me adoras, noutro momento só ligas aos teus amigos, ris-te e desfazes-te em simpatia com eles ao mesmo tempo que me ignoras totalmente quando tento falar contigo. Será que não passo do teu brinquedo do momento? Ainda no outro dia passei por uma perfumaria, não resisti a entrar e a cheirar o teu perfume. Assim que o meu olfacto detectou a fragrância foi como se a tua presença se materializasse ao meu lado e um medo invadiu-me, de que por algum acaso me visses ali e soubesses o poder que deténs sobre mim.
- O seu café. – e a empregada põe a chávena à minha frente.
- Obrigada!
A empregada afasta-se, olho para a mão que segura o cigarro que se consume e ela está a tremer. Combinaste encontrares-te comigo às 16h30, já passa da hora e o facto de poderes chegar a qualquer momento faz aumentar o meu nervosismo.
É hoje! Vou dizer-te que te amo e obrigar-te a responder. Que correspondas ao meu amor por ti ou não, não importa, só quero uma resposta clara que dê paz ao meu espírito.
Sinto uma mão que toca o meu ombro.
- Desculpa o atraso. O trânsito está infernal.
- Não faz mal.
Sentas-te à minha frente e olho-te nos olhos. Tu retribuis o meu olhar e ficamos assim por momentos. "Eu amo-te! Eu amo-te!"
- Parece que é desta que o teu Benfica vai ganhar o campeonato. – cortaste o silêncio e o momento passou.
- Sim, mas ainda falta um jogo. Tudo pode acontecer. – levo a chávena de café já frio aos lábios e uma tristeza invade-me.
"Eu amo-te!"