quinta-feira, maio 26, 2005

Cinefilias



O lado privado de Hitler em "A Queda — Hitler e o Fim do Terceiro Reich" não me surpreendeu, talvez porque tivesse visto na RTP há pouco tempo o filme "Hitler: Os Últimos Dez Dias" com Alec Guiness no papel principal. Aliás, em algumas cenas as semelhanças são bastante óbvias, o que é normal quando se faz filmes sobre o mesmo facto real. Isto só me faz ter a certeza de que a polémica que se gerou à volta da película de Oliver Hirschbiegel deve-se unicamente ao facto de ter sido feita por alemães.
A segunda guerra mundial acabou apenas há 60 anos, as enormes feridas que o conflito deixou ainda estão demasiado abertas. E o facto de haver um filme produzido por alemães que mostra o outro lado de Hitler é algo que faz despertar os traumas causados pela guerra, provocando assim uma reacção natural de defesa. No entanto temos de conseguir vencer o nosso medo de modo a não cairmos na ignorância de repudiarmos algo apenas com base na sua premissa.

Falando do filme em si, não é nenhuma obra-prima. Limita-se, qual documentário ficcionado, a passar de cena para cena, tendo a secretária Traudl Junge como fio conductor. Bruno Ganz tem de facto um óptimo desempenho enquanto Hitler, mostrando as suas várias faces, desde do histerismo, passando pela demência até à simpatia.

Antes da segunda guerra começar, no Reino Unido a única voz que se ouviu a prever a catástrofe foi a de Winston Churchill, isto porque ele sabia que um déspota capaz de actos horríveis não vem vestido de diabo e com o número 666 nas costas. Ele sabia que um déspota é antes de mais um ser humano como qualquer um de nós. Nesse sentido acho óptimo que "A Queda — Hitler e o Fim do Terceiro Reich" tenha sido feito, para nos lembrarmos que Hitler não era o diabo mas sim uma pessoa.