quinta-feira, setembro 18, 2008

O concerto ou a desilusão do ano?


Mais do que a música foi o mito criado por Madonna que levou 75 mil pessoas à Bela Vista e por aí começa um dos pontos negativos da noite de Domingo. Grande parte de quem se encontrava no concerto estava lá quase como um curioso que pretende ver um espécime raro da raça humana e o ambiente geral, salvo algumas canções, foi muito morno. Madonna apercebeu-se disso e tentou puxar pelo público mas sem resultados. O facto de Hard Candy ser um objecto de discórdia entre fãs também não ajudou, aliás, essa foi uma das razões pelo sucesso da Confessions Tour, a energia e a qualidade de Confessions on a Dance Floor, o meu álbum favorito da cantora. O molde do concerto também não foi dos melhores, o palco muito perto do chão impedia quem se encontrava mais atrás de ver directamente o que ia acontecendo. Ora, a Sticky and Sweet Tour vive muito das coreografias e pequenos pormenores e quando não se os consegue observar a experiência para o espectador é prejudicada e definitivamente seria mais apropriado o uso do Pavilhão Atlântico.
Quanto ao concerto em si, penso que se o pode dividir em duas partes distintas, a primeira que inclui os segmentos Pimp e Old School e a segunda, melhor que a anterior, com Gypsy e Rave. A parte final, enfatizando mais a música em si e com um alinhamento de canções bem conseguído, resultou numa grande festa. A remistura de La Isla Bonita com a versão dos Gogol Bordello de Lela Pala Tute pôs toda a gente a dançar, You Must Love Me foi o momento intimo da noite e a versão techno de Like a Prayer que não agradou a todos foi o momento alto da noite para mim.
Outros detalhes de realce, a coreografia e o video de She's Not Me onde Madonna desconstruiu a sua própria imagem. Nos ecrâs passavam várias sequências das mais emblemáticas fases da carreira da Material Girl enquanto no palco Madonna ia despindo as dançarinas que pareciam clones seus para revelar a realidade. Apesar de todo o teatralismo da cena foi para mim o momento mais revelatório do espectáculo onde Madonna jogou com a única constante da sua carreira, a mudança, e que todas aquelas Madonnas não são a verdadeira, envolvendo-a numa aura de mistério que fascina até a própria. Para Hung Up, em tom roqueiro, ficou guardado o momento metal, um pseudo solo de guitarra dela com direito ao sinal dos cornos e tudo. Também não faltou a política, com o apoio a Barack Obama subtilmente feito através de um dos vídeos dos interlúdios.
Em jeito de rescaldo direi que para quem teve a sorte de ficar nas primeiras filas deve ter sido algo de fenomenal mas para o resto do público ficou um pouco o sabor a desilusão.