quarta-feira, janeiro 30, 2008

Cinefilias


Neste passado fim-de-semana foi produtivo em termos de filmes, "3:10 To Yuma", "Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street" e "Tôkyô Monogatari".
"3:10 To Yuma" surpreendeu-me pela positiva, principalmente pela interacção entre a personagem de Christian Bale e a de Russell Crowe. Aliás, só um actor como Bale conseguiria, com uma personagem contida nos seus conflitos interiores, contrapor e aguentar-se na arena com Russell Crowe mais uma vez a demonstrar uma presença física impressionante e carisma a rodos.
"Sweeney Todd" foi, dos três, a desilusão. Sim, a Londres gótica de Tim Burton é de uma beleza alheia aos cânones gerais, Johnny Depp é único como sempre e há litros e litros de sangue mas qualquer coisa falha. Talvez porque, apesar de visualmente o filme ser claramente um filho de Burton, a história parece ficar presa em demasia à peça original.
Por último, o principal motivo que me leva a escrever este post, "Tôkyô Monogatari" (Viagem a Tóquio) de Yasujiro Ozu. Realizado em 1953 e tido como a obra-prima de Ozu, é um dos mais sublimes exemplos do cinema japonês.
Sempre considerei que o mais difícil de transformar em arte são os pequenos gestos e subtis conflitos do dia-a-dia sem perder o invisibilidade das suas repercussões. Talvez seja a própria cultura japonesa da beleza e a sua preocupação com a elegância na estética que permite destilar da história a poesia que emana do filme.
A câmara segue a viagem a Tóquio de um casal para verem os seus filhos, no caminho de regresso a casa a mãe morre e a família reúne-se para logo depois se separar nas suas vidas individuais. É a mestria de Ozu que torna poderosamente audível os pequenos conflitos sem nunca estilhaçar a sua invisibilidade e acima de tudo transforma algo filmado de modo tão japonês numa história sem barreiras culturais ou temporais.