quinta-feira, julho 13, 2006

Politiquices

Li no jornal metro de ontem a opinião de um leitor que se mostrava deveras indignado com o facto de Zapatero não ter assistido à missa presidida pelo papa, durante a visita que apelida de "um gesto inesquecível para os católicos do país vizinho".
Ora aí está! A visita do papa só tem importância para os católicos, não para a Espanha enquanto país com um regime secular, portanto José Luis Zapatero não tinha nada que lá estar. Por exemplo, a vinda da Madonna a Portugal também teve uma enorme importância para uma parte da população portuguesa, isso justificaria a ida do primeiro-ministro ao concerto dela? Pode-se pensar que a comparação é descabida mas a verdade é que tanto o papa como a Madonna vendem o seu produto e ajudam as pessoas de alguma forma a esquecer os problemas do dia-a-dia, se bem que um dos produtos é supostamente mais metafísico que o outro.
Continuando, o leitor acrescenta "(..) renegando a sua função oficial de representante do seu povo que o elegeu. (...) Poderá concluir-se que Zapatero, embora eleito, não se considera vinculado ao povo do seu país". Mas desde quando o primeiro-primistro tem de partilhar dos gostos e ideias do seu povo? Ele não é suposto ser um homem do povo mas sim trabalhar para o povo. E depois, ainda na sua opinião, o leitor diz que neste sentido Fidel Castro assumiu mais responsavelmente o seu papel de representante do povo... Santa ingenuidade! O que o Fidel Castro queria era aproveitar uma hipótese soberana de branquear o seu regime, de passar uma imagem de falsa abertura ao mundo, ele nunca quis saber do seu povo.

Definitivamente irrita-me que religiosos fanáticos queiram impor a sua visão ao resto do mundo que não partilha da mesma ideia. Qual é a parte de "regime secular" que eles não percebem?