quarta-feira, março 29, 2006

Viagens



Estou a gostar mais das aulas de alemão do que estava à espera. Principalmente porque eu estava à espera de apenas aprender uma nova língua e aquilo que tenho tido em cada aula são pequenas viagens culturais à Alemanha.

A aula começa.
Quando entro no Goethe Institut entra também Marlene Dietrich (ela diz que adorou aquilo, depois detestou e saiu, agora fez as pazes e voltou de novo, enfim...). Perto da biblioteca encontro Thomas Mann a discutir com o filho Klaus, mais ao lado Hermann Hesse calmamente medita. À entrada do Goetheke café, está sempre Nietzsche a dizer que "Deus está morto" e a barafustar contra o cristianismo apesar da empregada do café estar-lhe sempre a avisar para se acalmar porque afasta a clientela. A um canto Marx e Engels, entretanto rendidos à nossa bica, andam às voltas com um manifesto qualquer. Oiço um barulho e assusto-me! Detesto que a Leni Riefenstahl me tire fotos sem a minha permissão! Uma empregada passa por mim e oiço-a a reclamar que o Kurt Weill e o Bertolt Brecht são uns sovinas, nunca lhe dão mais de 3 vinténs de gorjeta. Sento-me numa mesa e peço uma bica, puxo do cigarro mas esqueci-me do isqueiro. Erika Mann, já farta da discussão do pai com o irmão, aparece e oferece-me o dela. Pergunta se eu tenho alguma coisa para fazer depois da aula de alemão, se eu quero ir até ao parque. Ainda não percebi se ela anda a fazer-se a mim ou não... respondo-lhe que o tempo está bom e uma ida ao parque não me desagradaria, ela afasta-se dizendo que espera por mim depois da aula. Entretanto, uns gritos abafados cheios de ódio chegam-me aos ouvidos, pergunto ao Bach, que está na mesa ao lado da minha, se ele sabe o que se passa. Responde-me que trancaram na despensa um louco com um bigode ridículo mas que já chamaram a ambulância para o levar para o hospício. Wagner que ouviu a resposta de Bach afirma categoricamente que o pobre do Adolf não é louco. Gera-se a confusão, Nietzsche enfurecido diz que ele assimilou o conceito do superhomem mas o anti-semitismo e o racismo são intoleráveis! Klaus Mann grita que Adolf devia ser internado o mais depressa possível. Martin Heidegger aparece vindo não sei donde e defende, por sua vez, o Adolf mais a sua ideologia. No meio disto, Leni Riefenstahl filma tudo, aquela mulher não pára! Os Kraftwerk decidem cantar a plenos pulmões que o que é preciso é 'Computer Love'.
O barulho de sirenes avisa que finalmente chegou a polícia. Um ladrar que impõe respeito faz-se ouvir e toda a gente se cala. É o inspector Richard Moser mais o seu fiel Rex, diz que isto são assuntos austriacos e que eles vão tratar de internar o senhor Adolf.
E com isto a calma retorna ao Goethe Institut.
A aula acabou, tempo de ir embora.