sábado, abril 23, 2005

"Joga aberto na linha, Simão!"

O comboio que chega pintado de vermelho à Reboleira, os inúmeros carros que procuram lugar para estacionar. Pessoas que se aglomeram nos portões de entrada para o estádio enquanto outras compram à pressa mais um cachecol. Os bares mais próximos completamente cheios, uma bejeca para animar e um cigarro para os nervos. As claques preparam as bandeiras, à espera de serem desfraldadas muitas vezes durante o jogo.

Putos, velhos, mulheres, homens. Malta xunga e finórios nos seus fatos. Toda a sociedade num estádio de futebol. Quando olho à minha volta e vejo o entusiasmo não resisto a questionar, como é que um mero desporto consegue reunir todas estas pessoas diferentes? Mas então reparo que fiz a pergunta errada, não estamos ali por causa do desporto mas sim por causa do clube. Até podia ser um jogo de berlindes que se um jogador representasse o Benfica e o outro o Sporting de certeza que teriam direito a uma claque numerosa. Sendo assim, a verdadeira questão é, porque nos unimos por detrás de um clube de futebol? Porquê? Pode ser porque vivemos vidas assentes em rotinas e o clube de futebol pode ser um escape. Pode ser porque o ser humano tem inatamente o desejo de pertença, de se identificar com um grupo. Pode ser a esperança de que se o nosso clube for vencedor talvez nós, como adeptos, também o sejamos. Pode ser o facto de sabermos que amar um clube é seguro, ele não nos vai trair, não nos vai abandonar nem magoar, ele vai estar sempre ali na sua catedral.
Acho que nunca se poderá explicar este amor a um simbolo clubista porque simplesmente não se explica emoções. Numa bancada de estádio de futebol, se há coisa que não existe é racionalidade. O saltar de alegria quando a bola entra na baliza, o falar com desconhecidos que durante 90 minutos são como família, gritar indicações aos jogadores como bons treinadores de bancada, chorar se perdemos, chamar nomes aos adversários e principalmente aos árbitros é tudo emoção pura.
Enquanto o Nuno Gomes marca o seu segundo golo e eu estou de pé com o cachecol do Benfica a girar sobre a minha cabeça a gritar "Golo!", a última coisa que me passa pela cabeça é controlar-me.

Eu vou ao estádio porque quero sentir e não pensar, porque quero sentir-me entre milhares de pessoas que cantam a plenos pulmões, "Ninguém pára o Benfica! Ninguém pára o Benfica!". Eu vou ao estádio porque quero me sentir siderada por algo que me ultrapassa imensamente enquanto individual.