quinta-feira, março 03, 2005

E a Espanha mesmo aqui ao lado...

E a Espanha ganhou mais um óscar, desta vez para melhor filme estrangeiro.
Nós, aqui em Portugal, nem conseguimos conciliar o público com as produções nacionais quanto mais produzir um produto que esteja presente nos prémios mais importantes da crítica mundial. Será que temos menos qualidade do que outros países?
Em parte acho que sofremos dessa cultura pimba, onde o que interessa é que venda, não importa a qualidade. O problema é que o português cinéfilo quer qualidade ou pelo menos bom entretenimento, nunca menos do que isso, e, infelizmente, isso são dois ingredientes que raramente fazem parte de um filme português moderno. Depois, há uma enorme desorganização quando toca à cultura em Portugal. Os actores, acreditando no que diz uma amiga minha na área do teatro, não entram em consenso, formando uma frente unida e o governo também não dá os apoios necessários. Aqui pode surgir a acusação de que o governo só apoia filmes que não merecem, como foi o caso do polémico "Branca De Neve" de João César Monteiro. Eu sou da opinião de que se deve financiar a criatividade mesmo que depois o resultado não seja o melhor. Em arte, onde tudo é tão subjectivo, só a estagnação e o conformismo leva a lado nenhum.
A Espanha de há uns anos para cá delineou um plano, manteve-se fiel a ele e agora vemos os frutos desse projecto. Sem medo de enfrentar tabus, vemos o cinema espanhol focar temáticas polémicas como a homossexualidade, o travestismo, a religião ou a eutanásia e a sair triunfante. O cinema britânico enfrenta problemas de financiamento, mas isso não impede a realização de filmes com consciência social como "Secrets & Lies" ou "Vera Drake", ambos de Mike Leigh. Em França assistimos a uma onda de criatividade visual, presente, por exemplo, nos filmes de Jean Pierre Jeunet (odiado por alguns críticos franceses por sair fora da intelectualidade pura). E temos também o dinamarquês Lars von Trier com o seu mais recente filme, o brilhante e duríssimo "Dogville". Em todos estes exemplos existe uma constante, o não ter medo de arriscar.
A arte é intrinsecamente provocatória e em Portugal a última coisa que se quer fazer é provocar. Nestas condições como é que podemos ter uma indústria cinematográfica florescente?