Divas
Da esquerda, Holiday, Fitzgerald e Simone
Para mim há uma trio de cantoras que simbolizam o que de melhor tem o jazz vocal, Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Nina Simone.
Billie Holiday, nascida em 1915, teve uma vida difícil. A pobreza em que viveu era comum na comunidade negra no início do século XX, para não passar fome prostituiu-se, sendo mesmo presa até que a oportunidade de cantar surgiu nos clubes de jazz de Harlem (distrito de New York). Mas foi com "Strange Fruit", letra que fala sobre o linchamento de negros nos estados sulistas da América, que tornou-se verdadeiramente conhecida. No entanto, apesar da fama, foi sempre alvo de constantes ataques racistas, estava-se nos anos 30. O seu, cada vez maior, vicio em heroína e o alcoolismo fez com que nos anos 50 perdê-se o controlo da sua voz. Morreria em 1959. Na voz dela existia a dor, o sofrimento.
Ella Fitzgerald, 1917, partilhou da mesma pobreza, chegando mesmo a não ter onde morar. Também ela evidenciou-se em Harlem. Teve uma longa e gloriosa carreira de 58 anos merecendo o epíteto de First Lady of Song.
Ainda me lembro de pegar num disco de vynil, colocá-lo no gira-discos, seleccionar as 33 rotações, pôr a agulha de leitura sobre o disco e descobrir aquela voz, que continha uma orquestra inteira, a cantar "Summertime", esse dia nunca mais me saiu da memória.
Nina Simone apareceu uma geração depois, 1933. Sem dúvida ela beneficiou do caminho aberto a muito custo por Holiday e Fitzgerald. Estudou piano na prestigiada Juillaird School. Mas foi no auge dos anos 60, no meio da enorme luta pela igualdade da comunidade negra, que ela se distinguiu. "Mississippi Goddam" talvez seja a canção que ela compôs que mais ilustra a luta contra o racismo que Simone sempre travou. Mas ela não resistiu e saiu da América acabando por morrer em França em 2003.
Deste trio, Nina Simone, talvez se possa dizer que tenha uma voz inferior mas a sua perícia no piano, incríveis composições e o facto de pôr toda a sua alma nas canções faz com que seja uma das grandes divas.
Definitivamente para mim Holiday representa a dor, Fitzgerald o estilo e Simone a revolta.
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