Ontem à noite, ao ver televisão, tive vários dilemas: ver Meryl Streep ou ver Meryl Streep? Ver homos ou ver homos? Ver algo de excelente qualidade ou ver algo de qualidade excelente? Em resumo, ver "The Hours" ou ver "Angels in America"?
Optei pelo "The Hours", o brilhantismo de "Angels in America" ainda está muito fresco na minha memória e depois era só um episódio que não revia.
Cada vez que vejo o filme mais gosto dele, encontro sempre mais pormenores que me deliciam. Para mim, este é um filme sobre três mulheres que se encontram numa encruzilhada devido à dor que sentem. Da decisão que tomarem agora depende todo o futuro delas e cada uma escolhe um caminho diferente. A personagem de Nicole Kidman escolhe a morte, Julianne Moore escolhe renascer e Meryl Streep decide finalmente cortar com o passado e viver o presente.
Depois de ter visto "The Hours" no cinema, um amigo meu perguntou se tinha percebido porque é que a Laura Brown (Julianne Moore) queria se suicidar. Achei estranho a pergunta porque para mim a razão era tão evidente. Ela sente-se presa num mundo onde ela é inútil. No dia em que o marido faz anos, é ele próprio que compra as flores. Quando Laura vai fazer o bolo e quer ensinar algumas coisas ao filho, este já as sabe. Ela é amada pelo marido e pelo filho mas aquela vida familiar perfeita não passa de uma redoma de vidro que a protege da Vida, e é isso que ela precisa, sentir a Vida pulsar dentro de si com toda a sua violência.
"You cannot find peace by avoiding life, Leonard." Diz Virginia Woolf na minha cena favorita, a da estação de comboios. No caso de Virginia é a solidão que provoca a imunodeficiência que permite os seus fantasmas devorarem a sua alma.
Os beijos são outro pormenor que acho extremamente interessante. Neste ponto, penso que há uma distinção entre os beijos de Virginia e Laura em comparação com o beijo de Clarissa. Virginia beija a irmã porque quer quase como sugar um pouco da vida da irmã. Laura beija a vizinha porque quer oferecer vida e apoio. A presença, em ambas as cenas, de crianças simboliza a não sexualidade destes momentos. Durante o beijo de Clarissa a Sally não há crianças, aqui o beijo é de amor/paixão, de alguém que parou de pensar na felicidade e decide finalmente vivê-la.
É por todos estes detalhes, e mais alguns, que acho este filme muito rico.
Virginia Woolf: "Dear Leonard, To look life in the face, always, to look life in the face, and to know it for what it is. At last to know it, to love it, for what it is, and then, to put it away. Leonard, always the years between us, always the years, always the love, always... the hours..."
Optei pelo "The Hours", o brilhantismo de "Angels in America" ainda está muito fresco na minha memória e depois era só um episódio que não revia.
Cada vez que vejo o filme mais gosto dele, encontro sempre mais pormenores que me deliciam. Para mim, este é um filme sobre três mulheres que se encontram numa encruzilhada devido à dor que sentem. Da decisão que tomarem agora depende todo o futuro delas e cada uma escolhe um caminho diferente. A personagem de Nicole Kidman escolhe a morte, Julianne Moore escolhe renascer e Meryl Streep decide finalmente cortar com o passado e viver o presente.
Depois de ter visto "The Hours" no cinema, um amigo meu perguntou se tinha percebido porque é que a Laura Brown (Julianne Moore) queria se suicidar. Achei estranho a pergunta porque para mim a razão era tão evidente. Ela sente-se presa num mundo onde ela é inútil. No dia em que o marido faz anos, é ele próprio que compra as flores. Quando Laura vai fazer o bolo e quer ensinar algumas coisas ao filho, este já as sabe. Ela é amada pelo marido e pelo filho mas aquela vida familiar perfeita não passa de uma redoma de vidro que a protege da Vida, e é isso que ela precisa, sentir a Vida pulsar dentro de si com toda a sua violência.
"You cannot find peace by avoiding life, Leonard." Diz Virginia Woolf na minha cena favorita, a da estação de comboios. No caso de Virginia é a solidão que provoca a imunodeficiência que permite os seus fantasmas devorarem a sua alma.
Os beijos são outro pormenor que acho extremamente interessante. Neste ponto, penso que há uma distinção entre os beijos de Virginia e Laura em comparação com o beijo de Clarissa. Virginia beija a irmã porque quer quase como sugar um pouco da vida da irmã. Laura beija a vizinha porque quer oferecer vida e apoio. A presença, em ambas as cenas, de crianças simboliza a não sexualidade destes momentos. Durante o beijo de Clarissa a Sally não há crianças, aqui o beijo é de amor/paixão, de alguém que parou de pensar na felicidade e decide finalmente vivê-la.
É por todos estes detalhes, e mais alguns, que acho este filme muito rico.
Virginia Woolf: "Dear Leonard, To look life in the face, always, to look life in the face, and to know it for what it is. At last to know it, to love it, for what it is, and then, to put it away. Leonard, always the years between us, always the years, always the love, always... the hours..."
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