sábado, novembro 13, 2004

Momentos

Fui dar um passeio à praia e ia agora para casa. Tinha acabado de passar por um café quando de repente oiço uma voz a chamar-me, voltei-me, era um tio meu. Ele disse para entrar e sentar-me com ele para tomar um café e um bolo.
Sentei-me em frente ao meu tio, os cabelos dele já estão completamente brancos, os seus 73 anos fazem-se sentir, no entanto nos olhos azuis ainda há aquele brilhozinho. Ele perguntou como é que a escola ia, se os meus pais estavam bem. Ele ia daqui a pouco trabalhar e estava apenas a descansar enquanto fumava um cigarro e bebia um café. Já não me lembro por que caminhos a conversa andou, só sei que foi parar a histórias antigas de quando ele e o meu pai trabalhavam nas salinas. Contou-me que uma vez um gajo qualquer tinha dito mal do meu pai e ele a proteger o irmão mais novo tinha dado uma lição, entenda-se tareia, ao outro. Contou-me de como a vida na salina era extremamente dura, que quando vinham os barcos para levar o sal para Lisboa eles tinham que carregar na cabeça canastras de sal que pesavam quase 60 kg. Contou-me de quando os salineiros revoltaram-se e pediram um aumento de 10 tostões no salário. A PIDE, alertada pelos bufos, não tardou e levou presos alguns dos que se revoltaram para interrogatório. O padre que se tinha posto do lado dos salineiros também foi "convidado" a sair da vila e recolocado noutro sítio qualquer. O meu tio conseguiu fugir porque se tinha escondido num barco de descarga de carvão onde outro tio meu trabalhava. E enquanto ele continuava a contar histórias, parecia que eu estava a fazer uma viagem no tempo. É estranho mas quando ouvimos estas coisas da boca de quem realmente as viveu é como se estivessemos naquela época a reviver os acontecimentos ao lado de quem as conta.
Entretanto tinha chegado a hora dele ir trabalhar, despedimo-nos e cada um seguiu o seu caminho.