sábado, setembro 18, 2004

"Versos" de Amália Rodrigues

Estou a ler o livro “Versos” de Amália Rodrigues e nunca me passou pela cabeça que fados míticos como “Estranha Forma de Vida”, “Lágrima”, “Grito” ou até o “Ó Gente da Minha Terra” fossem da sua autoria.
Divagando um pouco, será esta a forma subtil do destino passar a coroa à futura rainha do Fado? O “Ó Gente da Minha Terra” apesar de ter sido escrito por Amália esta nunca o cantou, foi Mariza que o imortalizou…
Regressando ao livro, compreendo agora mais do que nunca o porquê de Amália ser o ícone do Fado. Não é só o facto de ter uma voz sublime mas também porque ela sentia verdadeiramente o que cantava. Nestes versos escritos por ela nota-se na recorrência aos temas de solidão, tristeza e a existência do Destino do qual não se pode fugir que Amália não cantava o Fado, ela vivia o Fado! E por isso ela será sempre a figura cimeira desta forma de música, ela que internacionalizou o Fado, que juntamente com a música de Alain Oulman cometeu o sacrilégio de cantar os grandes poetas portugueses, ela que na sua voz continha a alma de Portugal.

Hoje é com um pouco de vergonha que digo que quando era mais nova não gostava de Fado. Achava aquilo velho, sem mais nada para dizer do que um mero conjunto de lamentos e Amália mais um nome no panorama musical. Mas uns anos se passaram, algumas coisas se modificaram na minha vida e de repente percebi a verdade e beleza única contidas no Fado.
Já Amália dizia que "só depois da maturidade se pode cantar o fado", talvez também só depois de alguma maturidade se pode compreender o fado.